Camadas de realidade

2021-10-31 | aprates.dev

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Ninguém é mais desesperançosamente escravizado do que aqueles que acreditam falsamente que são livres. - Goethe

Comecei e parei de escrever este texto muitas vezes nas últimas semanas. Levei um tempo para juntar todas as peças, para colocar pelo menos alguma perspectiva otimista junto com conselhos úteis e não apenas reclamar dos problemas da sociedade moderna.

Todos nós sabemos que as redes sociais como conhecemos não vão desaparecer, não a curto prazo e provavelmente também não a longo prazo. Mais e mais pessoas aderem a elas dia após dia, e não há muito o que possamos fazer para evitar que "eles" explorem nossa privacidade para manipular nossas vidas. Mas podemos e devemos tentar!

Então, quem são 'eles'?

Conforme mencionado por Edward Snowden [3], não é realmente sobre quem, mas sobre o comportamento coletivo das empresas de tecnologia que oferecem serviços "gratuitos", onde, de fato, sabemos que nossos dados de usuário são o produto. Quando digo 'eles', pode soar como se estivesse imaginando coisas e desenhando teorias da conspiração e, na verdade, seria muito fácil apontar o dedo…
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No final das contas, é realmente sobre para onde estamos indo como sociedade. E eu acho que é mais útil entender e discutir a mecânica por trás dos fenômenos, do que acusar pessoas e empresas, para que possamos agir na direção de mudanças comportamentais significativas.

É claro que desenvolvedores de tecnologia, eu inclusive, assim como os pesquisadores, têm a responsabilidade sobre o que estão colocando na mesa. Mas então outras forças, como regras criadas por CEOs das 'big techs' e políticos mais focados em seu próprio benefício, juntamente com o comportamento de massa, geram os fenômenos que observamos como o (mau) uso da tecnologia.

Vamos recapitular o que 'eles' fazem

Devemos começar por reconhecer que muitos dos avanços tecnológicos da comunicação da qual hoje nos beneficiamos em nosso dia a dia é graças aos serviços criados por 'eles'. Nem tudo é ruim, mas devemos perceber que também nem tudo é bom. E o mais importante, que não há almoço grátis.

Neo não percebeu que sua existência servia apenas como uma bateria para alimentar a 'Matrix' até que ele tomou a pílula vermelha. Em certo sentido, estamos assistindo a um novo capítulo de Black Mirror ou Ready Player One [4] se desdobrando diante de nossos olhos, sendo cozidos lentamente para acreditar que será para o bem, possivelmente rumo a uma existência distópica. Mas não é sobre se conectar com as pessoas? Ou será novamente sobre novas maneiras de nos usar como um produto?

O risco, uma vez que o acesso 5G de alta velocidade esteja em toda parte, é que essas plataformas irão misturar mais e mais camadas de virtualidade em nossa experiência de vida diária, sedando-nos e aprisionando-nos em bolhas virtuais. Um dos principais problemas com isso reside no fato de que não somos seres virtuais, portanto, entramos no paradoxo do isolamento: quanto mais conectados estamos, mais desconectados estamos.

Questões morais

A denunciante Frances Haugen expôs Os Arquivos no The Wall Street Journal [5], onde muitos fatos não são uma grande surpresa sobre o que uma dessas plataformas populares fazem. Para citar alguns pontos, 'eles':
Nem todos esses problemas podem ser resolvidos facilmente. No entanto, o ponto principal é, os gestores dessas plataformas sabem como a tecnologia que eles criaram é mal utilizada, mas quando confrontados com a escolha de consertar seus erros ou manter as taxas de lucro atuais, eles optam pelo dinheiro.

Mais dessas mesmas questões foram expostas no filme O Dilema Social, de Jeff Orlowski. Você deveria assistir a este filme sabendo que o diretor carrega nas tintas para provar um ponto, mas acho que é um aviso válido em uma linguagem acessível.

O que há para 'nós'?

Acredito que podemos combater essa tendência, tentando ser mais informados sobre como usar a tecnologia, pressionando as empresas a aderirem a escolhas éticas, e permitindo que mais pessoas saibam que esses problemas existem em primeiro lugar.

Mensageiros

A indisponibilidade temporária das plataformas no início de outubro foi um bom lembrete de como essas plataformas tentam capturar e manter a nossa atenção para nos viciar. Se não podemos evitar, pelo menos devemos tentar diversificar a nossa dependência em serviços de comunicação, em vez de usar os atuais mainstream, Messenger e WhatsApp, que:
Existem serviços de mensagens alternativos melhores que podemos priorizar, por exemplo:

Browsers

O Chrome é conhecido por ter sérias falhas de privacidade e não existe realmente um navegador perfeito, mas existem opções, como:
Ou ainda melhor, começar a publicar e ler notícias e artigos na rede Gemini, usando assinaturas de páginas simples como fonte do feed e então, dependendo menos dos feeds de mídia social, onde as postagens podem ou não chegar até você, devido a escolhas algorítmicas dessas plataformas.

Se nunca ouviu falar sobre Gemini, neste artigo você encontra informações em linguagem simples e acessível:
[2] Guia de início rápido Gemini

Esteja atento

Do jeito que as coisas estão, não há passe de mágica que possa nos fornecer uma solução com um clique. Você pode considerar expor menos informações nessas plataformas e ter cuidado com o tempo que gasta nelas, bem como não permitir que anúncios sejam interpretados como um sinal do universo, ou a falta de curtidas e seguidores o decepcionem.

Muitas dessas plataformas, incluindo motores de busca, permitem que você personalize a quantidade de dados que você permite que eles coletem e, por padrão, 'eles' coletarão e sugarão todos os dados que puderem do usuário. Você pode tirar algum tempo e visitar a seção de configurações de privacidade das plataformas que você usa e tentar diminuir as permissões que você dá a 'eles' ajustando tais configurações. É muita informação para cobrir aqui, mas existem muitos guias bons sobre isso em toda a Internet. O mesmo é válido para sistemas operacionais e softwares que usamos.

Além dos sistemas que mencionei antes, você também pode tentar substituir inteiramente a maioria dos serviços oferecidos pelas 'big techs' por soluções menores de código aberto voltadas para a comunidade. No caso das redes sociais há Mastodon [11], como garoto novo no pedaço.

Espero que mais alternativas surjam para dar a 'nós', indivíduos, o poder de volta, em vez de dá-lo a 'eles'. Na verdade, como pensamento final, não existe tal coisa "nós e eles", "afinal somos apenas homens comuns". Somos parte do problema e também parte da solução.

References

[3] "Não escreva sobre o nome, escreva sobre o que eles fazem" @Snowden
[4] Ready Player One
[5] Arquivos da Frances Haugen Files no WSJ
[6] Telegram
[7] Signal
[8] Brave Browser
[9] Firefox Browser
[10] Guia de reforço para Firefox
[11] Mastodon

Veja também

[12] Arquivos da Cápsula
[13] Home da Cápsula

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