O design da mente eletrônica

2021-10-19 | aprates.dev

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Numa manhã fria de inverno na alemanha, ainda com sono e depois uma boa dose de café, durante uma aula sobre inteligência artificial, comecei a ter alguns pensamentos interessantes. Decidi abrir o caderno, e anotei umas ideias meio doidas que me vieram à cabeça… Assim começou o projeto da mente eletrônica. Agora, uma década mais tarde, ao reler aquelas anotações, estes são os meus pitacos sobre o tema.

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Segundo Alan Turing, criador da computação, uma máquina só poderia ser considerada dotada de inteligência humana, caso ela fosse capaz de:

Ser gentil, industriosa, bonita, amigável, ter iniciativa, senso de humor, distinguir o certo do errado, cometer enganos, apaixonar-se, gostar de morangos com creme, fazer alguém se apaixonar por ela, aprender a partir da experiência, usar palavras corretamente, ser o sujeito de seu próprio pensamento, ter tanta diversidade de comportamento quanto o homem e fazer algo realmente novo.

Não me entenda mal, creio que os hoje famosos assistentes virtuais, tais como Siri (Apple), Cortana (Microsoft), Assistente Google, Alexa (Amazon) etc. são impressionantes, mas estão bastante aquém de chegar neste grau de autonomia e sofisticação.

Mesmo que tais características pareçam difíceis de serem implementadas, as questões que permanecem são:
Porém, há uma verdade quase científica que diz que todas as tecnologias que o homem possui hoje foram imaginadas como um delírio no passado e para as utopias (ou distopias) futuras, é só uma questão de tempo para que também esses devaneios se transformem em realidade.

Definições

Primeiro, vamos aos equívocos. A primeira confusão que pode ocorrer sobre este tema é acreditar que cérebro e a mente são a mesma coisa, quando na verdade o cérebro compõe a parte física e maquinal que dá suporta à mente. A mente é algo intangível constituída por ideias e emoções.

Podemos então comparar nossa composição humana com computadores:
Neste contexto, seguem minhas definições:

Estrutura modular

A mente parece ser um sistema que processa ideias de forma associativa por meio de módulos inteligentes independentes que trabalham colaborativamente para gerar a consciência. A mente aprende e reage através das percepções, possuindo um universo próprio constituído de uma coleção de fluxos e contextos de ideias.

O ambiente e a forma como novas impressões são captadas podem estar relacionados com os seguintes fenômenos da experiência humana.

Subconsciente

Sigmund Freud, que viveu entre 1856-1938, construiu seu famoso modelo da mente composto por Ego, Id e Superego. O Ego é o sistema responsável por resolver conflitos das necessidades irracionais do Id e as imposições morais do Superego. Ele considerou que a mente funciona em nível consciente e inconsciente.

Modelo mental

Em 1943, Kenneth Craik afirma: "Se o organismo transporta um modelo em escala reduzida da realidade externa e de suas próprias ações possíveis dentro de sua cabeça, ele é capaz de experimentar várias alternativas, concluir qual a melhor delas, reagir a situações futuras antes que elas surjam, utilizar o conhecimento de eventos passados para lidar com o presente e o futuro e, em todos os sentidos, reagir de maneira muito mais completa, segura e competente às emergências que enfrenta."

Intuição

Há mais de 3.000 a.C., no vale do Indo, a civilização Harappiana desenvolveu uma filosofia teórica denominada Sámkhya. Segundo esta filosofia os seres humanos podem atingir vários níveis de consciência. Os estágios evolutivos da consciência são: emocional, mental, intuicional e Púrusha, que significa a essência absoluta ou chispa de vida. Em geral, o homem vive no nível emocional e mental. No entanto, eventualmente é capaz de vislumbrar o último estágio, um estado profundo autoconhecimento, por meio da intuição.

Humanizando os circuitos integrados

Por que pensamos? Orá, sei lá porque pensamos. Talvez, porque nascemos assim e não podemos evitá-lo… Toda a história da evolução da vida em última análise não poderá satisfazer a todos os 'porquês', mas pode tentar justificar os 'comos'.

Creio que para recriar uma mente é necessário estudá-la. Perceber as regras que regem a orquestra de pensamentos. Precisamos mergulhar dentro de nós buscando chegar até quase a raiz das nossas sinapses, não necessariamente de como funciona o nosso cérebro (o que parece ter sido foco das frentes de pesquisa modernas), mas tentando entender o porquê e o como se dão as ideias.

Uma interessante característica da inteligência humana, por exemplo, é compreender como esquecemos das coisas. Esquecer não é exatamente uma falha, e talvez nela resida o ingrediente secreto para uma inteligência artificial mais sofisticada.

Sim, as nossas memórias são instáveis: as pessoas esquecem detalhes especialmente quando um detalhe não é usado. Nossa mente distorce sutilmente ou completamente as memórias quando nos recordamos de algo. Parecemos ter um dispositivo de segurança emocional: esquecemos ou adaptamos toda informação que não nos é util ou agradável.

Às vezes precisamos ouvir uma informação repetidamente para guardá-la. Se não é algo que estejamos buscando ou quando não conseguimos fazer uma associação com algum outro conceito que já nos seja familiar, a tendência é que tal fragmento de informação passe desapercebido.

O loop mental

A curiosidade é o motor da mente que a mantém em uma gula insaciável por novas ideias e relações que possa estabelecer entre elas. Fica se perguntando 'como assim?', 'por que?', 'o que é isso?', 'mas e se…?', e nunca se dá por satisfeita.

E assim, baseado em achismo mesmo, creio que nossa mente opera atraves de uma espécie de game-loop infinito que está sempre tentando saciar esta curiosidade que não tem fim. Tal procedimento pode ser descrito em pseudo-código, mais ou menos da seguinte forma:

enquanto (está vivo)
    adicionar novas percepções à mente
    descartar ideias irrelevantes
    analisar ideias (com base nas referencias da memória)
    se (nova relação possível)
        se (possivel fazer algo a respeito agora)
            tomar uma ação concreta
        senão
            guardar análise interessante na memória

Reflexões finais

Pensar de forma racional é apenas uma atribuição de um método lógico, mas não é o processo natural do pensamento humano. Apesar da lógica ser a base para os circuitos integrados não é base para a nossa mente. Seres humanos não são lógicos, portanto imagino que emular uma mente terá menos à ver com regras e mais com representações de contextos de ideias.

Por ter trabalhado com desenvolvimento de jogos no passado aprendi que o que vale é parecer real. Não interessa como você produz a visualização das cenas ou a inteligência de um personagem de um universo virtual, o importante é que cause a ilusão no público e possa ser reproduzido em tempo real. É com a mente aberta para soluções criativas que estejam menos preocupados em reproduzir o funcionamento do nosso cérebro e mais focadas em reproduzir o nosso comportamento que creio que os maiores avanços tecnológicos serão observados.

E você, o que acha sobre isso?

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